Entre o caos praiano e a calmaria das cores, as pinturas do Miguel Thomé fazem viajar pelos retratos de verões utópicos, em pinceladas que ora mostram e ora escondem. As obras são feitas a partir de fotografias que o próprio Mig tira.
Sua primeira exposição se chama Litoral, em cartaz no Acervo Diária de 18/03 a 15/04/23.
Visitamos o seu ateliê e preparamos uma entrevista com o Mig, que você lê a seguir:
O que te move a pintar?
Pintar é uma forma de limpar o lodo psíquico. Um espaço de intensa introspecção. Eu amo o fato da pintura ser uma prática artística solitária e muito pouco burocrática. A possibilidade de materializar uma obra em poucas horas. Além do prazer do manejo do material, a tinta tocando na tela, as misturas, a textura do bastão oleoso.
O espaço do ateliê também traz uma incrível elasticidade para o tempo. A frequência é outra. Existe uma despressurização muito relaxante ao passar pela porta.
Como é o seu processo criativo?
Meu processo criativo começa na fotografia analógica. Tiro fotos de pessoas que me despertam algum interesse. Pessoas que poderiam estar em uma ficção. Nesse momento sinto que meu trabalho com cinema vem à tona. Penso essas fotos como cenas de um micro filme.
A praia tem sido o grande universo das minhas pinturas dos últimos anos. Meu interesse pelo corpo, pela fluidez da água/areia, pelo imperativo da felicidade, o calor, a cor, o sal, o sol, a contemplação, a queimadura, o mar.
Essas imagens são revisitadas no ateliê depois de meses ou anos. Aqui entra um elemento interessante de memória. Eu revisito diversas vezes as mesmas imagens, os mesmos personagens, a cada nova pintura eles tomam um novo significado. Essa fluidez do passado, a memória se altera através dos nossos novos olhares.
Como começou no universo das artes?
Meu irmão, Filipe Thomé, foi quem me apresentou desde muito cedo o universo da arte. Meu primeiro contato foi com a música. Tive um projeto por muitos anos. Depois veio o audiovisual e então a pintura. Eu adoro poder circular por essas diversas formas de expressão. Em cada período da vida uma acaba fazendo mais sentido.
Quais são suas inspirações e referências ?
Minhas inspirações são as fotos que tiro, tudo que eu vejo. Personagens nas ruas, na praia. texturas. pinturas de parede de borracharia ou de grandes museus. Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Hockney, Francis Bacon, Lucian Freud, André Derain, Anthony Cudahy, Maxwell Alexandre.
Trago referências do cinema e da fotografia como Jodorowsky e suas cores exuberantes. A profundidade e tensão do Kubrick. O olhar atento e carregado de um humor sutil das fotografias de Joel Meyerowitz.
O que significa o litoral pra você?
O litoral é um espaço de questionamento dos contornos. Um lugar de limites flexíveis com ausência de rigidez. O encontro e o desencontro da areia e doa mar. Um lugar de contemplação, de relaxamento. Ao mesmo tempo um espaço que gera um certo imperativo da felicidade. Gosto de trabalhar esse contraste nas obras.
O que você escuta no seu ateliê?
Eu geralmente escuto podcasts de filosofia e psicanálise. Ajuda a entrar na frequência da pintura. "Vibes em análise” "meu inconsciente coletivo” "naruhodo" "elefantes na neblina”.
Aqui também tem uma playlist com músicas que podem estar rolando no ateliê.
Para saber mais:
Litoral | Miguel Thomé
Em cartaz: até 15/04 • segunda à sexta-feira das 12h às 19h, sábado das 11h às 18h
Rua Artur de Azevedo, 1315 • São Paulo
Fotos e texto: Raphael Dias
Comments